O Lagar de Varas de Parada | Carregal do Sal

O Lagar de Varas de Parada | Carregal do Sal

Published On: 05/12/2025Last Updated: 05/12/2025
Published On: 05/12/2025Last Updated: 05/12/2025

O Lagar de Varas de Parada constitui um exemplo notável dos lagares tradicionais portugueses. As fontes institucionais situam a sua construção entre o século XIX e o início do século XX, embora não exista, até ao momento, uma datação arquivística plenamente confirmada em publicação aberta. O conjunto preserva os principais elementos estruturais e funcionais característicos desta tipologia — varas, pios, mós (galga), seiras e prensas — refletindo uma tecnologia de fabrico de azeite baseada na tração animal e em técnicas artesanais que perduraram até à generalização dos equipamentos industriais no processo de modernização do setor oleícola.

Do ponto de vista arquitetónico, o lagar organiza-se em dois patamares funcionais: o superior, destinado às tulhas e à moagem; e o inferior, dedicado às prensas e pratos. Esta solução evidencia uma lógica racional do fluxo produtivo, aproveitando o escoamento por gravidade. O edifício integra alvenaria tradicional da região, com forte presença de granito nos pios e nas mós. No interior destacam-se as mós cilíndricas de pedra, o sistema de fuso e vara das prensas, bem como o conjunto de recipientes cerâmicos e de madeira. Este acervo material permite compreender e reconstituir, de forma sequencial, as operações de enseiramento, prensagem, caldeação e decantação.

Historicamente, os lagares de varas enquadram-se numa vasta tradição mediterrânica de produção oleícola, frequentemente associada, na literatura, à herança técnica da Antiguidade — em particular a romana — e à sua transmissão e adaptação ao longo da Idade Média e da Época Moderna. Em Portugal, muitos destes lagares funcionaram segundo lógicas familiares e comunitárias, transformando a azeitona de diversos produtores locais mediante práticas como a maquia (pagamento em azeite), usos que se mantiveram em várias regiões até meados do século XX.

Com o avanço da mecanização, nomeadamente a introdução de prensas hidráulicas e de sistemas contínuos por centrifugação, muitos lagares tradicionais foram desativados. Neste contexto, a musealização do Lagar de Varas de Parada representa um importante gesto de salvaguarda do património etnográfico e agroindustrial. Atualmente integrado no Museu Municipal Manuel Soares de Albergaria e em roteiros culturais regionais, o lagar mantém uma função pedagógica essencial, ajudando a compreender o papel económico e social do azeite na região — da organização do trabalho agrícola às práticas alimentares e às dinâmicas de circulação de bens.

Nota técnica sobre o processo tradicional da produção do azeite:

Receção e depósito das azeitonas nas tulhas;

Moagem por mós (galga), geralmente com tração animal;

Enseiramento da pasta em seiras;

Prensagem por varas, libertando azeite e água-ruça;

Caldeação (adição de água quente) e nova prensagem;

Decantação nas tarefas/tesoiros, separando azeite e água.

Este ciclo técnico encontra descrição consistente em documentação museográfica e estudos etnográficos sobre lagares de varas em Portugal.

Referências:

Câmara Municipal de Carregal do Sal. Núcleo Museológico / Lagar de Varas de Parada. Museu Municipal Manuel Soares de Albergaria. www.cm-carregal.pt  

Direção-Geral do Património Cultural / publicações regionais. (s.d.). Património oleícola tradicional: processos e terminologia.

Enoturismo.pt. “Lagar de Varas de Parada”: ficha e imagem do núcleo museológico.

Nabais, A. M. (artigo / relatório). Lagares de Varas: estudo e caracterização (ex.: Vila Velha de Ródão). Documento técnico/académico sobre lagares de varas e sua importância etnográfica.

Turismo do Centro de Portugal / Viseu Dão Lafões. (s.d.). Núcleo Museológico do Lagar de Varas de Parada (ficha turística).

Visit Viseu Dão Lafões. “Núcleo Museológico do Lagar de Varas de Parada” — informação turística e de conservação.