Dia Mundial da Filosofia: como pensar filosoficamente o cultivo da terra e a prática agrícola
O Dia Mundial da Filosofia celebra-se anualmente como momento de reflexão sobre o papel da filosofia nas nossas vidas. Quando procuramos relacionar esta celebração com o mundo da agricultura, abrimos um caminho pouco convencional de pensamento: como pensar filosoficamente o cultivo da terra, a prática agrícola, e a relação humana/natureza ao longo da história. A Unidade de Desenvolvimento Rural e Agroalimentar, da CCDR Centro, associa-se a esta celebração na perspetiva de contribuir para que se passe a olhar para a agricultura não apenas como sector económico ou conjunto de técnicas, mas como espaço de reflexão filosófica: sobre o humano, a natureza, a técnica e a ética.
Na Grécia antiga a agricultura não era apenas uma atividade económica, mas uma prática vital que se entrelaçava com a ética, a polis e a constituição da comunidade. O cultivo da terra configurava-se como um modo de vida virtuoso, que formava pessoas e comunidades. Podemos ver neste período uma abordagem ontológica e antropológica: a relação do ser humano com a natureza (terra, solo, animais) aparece como fonte de bem-estar, de virtude e de ordem comunitária. Por exemplo, segundo Aristóteles, o agricultor forma‐se no esforço físico, no cuidado com o solo e no domínio de si, práticas que contribuem para o carácter virtuoso.
Por outro lado, autores contemporâneos apontam para o que se designa por “filosofia agrária”: uma corrente que afirma que a agricultura não é apenas mais um ramo económico, mas tem papel constitutivo em instituições sociais, virtudes humanas e ecologia. Um autor central nesta viragem contemporânea é Paul B. Thompson, cujas obras são ponto de convergência entre ética, tecnologia agrícola, identidade alimentar e filosofia ambiental. Para este autor, agricultura torna-se campo de investigação filosófica: “quem somos enquanto seres que cultivam, que comem e que vivem em sistemas alimentares? Que tecnologia empregamos e com que consequências? Que valores moldam esses sistemas?”
Em Portugal, a reflexão sobre a relação entre filosofia e agricultura encontra ecos tanto no registo histórico como no ético-normativo. Por exemplo, A. H. de Oliveira Marques, historiador formado em Ciências Histórico-Filosóficas, dedicou-se a estudar a evolução da agricultura portuguesa ao longo dos séculos e publicou a obra Introdução à História da Agricultura em Portugal, em que analisa, entre outros temas, a questão cerealífera na Idade Média em Portugal.
Nesta abordagem vemos como a agricultura não é só técnica ou económica, mas também parte integrante da constituição social, cultural e histórica do país, o que remete para uma filosofia da prática agrícola enquanto elemento formador da comunidade e da paisagem.
Paralelamente, no domínio mais explicitamente filosófico e ético, a obra de Maria do Céu Patrão Neves, professora de Ética que foi consultora para o setor da Agricultura e Pescas, leva-nos a pensar que a agricultura portuguesa não pode prescindir de uma reflexão ética sobre os fins, práticas e técnicas agrícolas.
Assim, celebrando o Dia Mundial da Filosofia, convém lembrar que os agricultores, os decisores e os cidadãos portugueses são chamados a refletir não apenas sobre “como” cultivamos, mas “porquê” e “para quem” cultivamos, integrando ética, ambiente, cultura e futuro.
Dia Mundial da Filosofia: como pensar filosoficamente o cultivo da terra e a prática agrícola
Dia Mundial da Filosofia: como pensar filosoficamente o cultivo da terra e a prática agrícola
O Dia Mundial da Filosofia celebra-se anualmente como momento de reflexão sobre o papel da filosofia nas nossas vidas. Quando procuramos relacionar esta celebração com o mundo da agricultura, abrimos um caminho pouco convencional de pensamento: como pensar filosoficamente o cultivo da terra, a prática agrícola, e a relação humana/natureza ao longo da história. A Unidade de Desenvolvimento Rural e Agroalimentar, da CCDR Centro, associa-se a esta celebração na perspetiva de contribuir para que se passe a olhar para a agricultura não apenas como sector económico ou conjunto de técnicas, mas como espaço de reflexão filosófica: sobre o humano, a natureza, a técnica e a ética.
Na Grécia antiga a agricultura não era apenas uma atividade económica, mas uma prática vital que se entrelaçava com a ética, a polis e a constituição da comunidade. O cultivo da terra configurava-se como um modo de vida virtuoso, que formava pessoas e comunidades. Podemos ver neste período uma abordagem ontológica e antropológica: a relação do ser humano com a natureza (terra, solo, animais) aparece como fonte de bem-estar, de virtude e de ordem comunitária. Por exemplo, segundo Aristóteles, o agricultor forma‐se no esforço físico, no cuidado com o solo e no domínio de si, práticas que contribuem para o carácter virtuoso.
Por outro lado, autores contemporâneos apontam para o que se designa por “filosofia agrária”: uma corrente que afirma que a agricultura não é apenas mais um ramo económico, mas tem papel constitutivo em instituições sociais, virtudes humanas e ecologia. Um autor central nesta viragem contemporânea é Paul B. Thompson, cujas obras são ponto de convergência entre ética, tecnologia agrícola, identidade alimentar e filosofia ambiental. Para este autor, agricultura torna-se campo de investigação filosófica: “quem somos enquanto seres que cultivam, que comem e que vivem em sistemas alimentares? Que tecnologia empregamos e com que consequências? Que valores moldam esses sistemas?”
Em Portugal, a reflexão sobre a relação entre filosofia e agricultura encontra ecos tanto no registo histórico como no ético-normativo. Por exemplo, A. H. de Oliveira Marques, historiador formado em Ciências Histórico-Filosóficas, dedicou-se a estudar a evolução da agricultura portuguesa ao longo dos séculos e publicou a obra Introdução à História da Agricultura em Portugal, em que analisa, entre outros temas, a questão cerealífera na Idade Média em Portugal.
Nesta abordagem vemos como a agricultura não é só técnica ou económica, mas também parte integrante da constituição social, cultural e histórica do país, o que remete para uma filosofia da prática agrícola enquanto elemento formador da comunidade e da paisagem.
Paralelamente, no domínio mais explicitamente filosófico e ético, a obra de Maria do Céu Patrão Neves, professora de Ética que foi consultora para o setor da Agricultura e Pescas, leva-nos a pensar que a agricultura portuguesa não pode prescindir de uma reflexão ética sobre os fins, práticas e técnicas agrícolas.
Assim, celebrando o Dia Mundial da Filosofia, convém lembrar que os agricultores, os decisores e os cidadãos portugueses são chamados a refletir não apenas sobre “como” cultivamos, mas “porquê” e “para quem” cultivamos, integrando ética, ambiente, cultura e futuro.
O Dia Mundial da Filosofia celebra-se anualmente como momento de reflexão sobre o papel da filosofia nas nossas vidas. Quando procuramos relacionar esta celebração com o mundo da agricultura, abrimos um caminho pouco convencional de pensamento: como pensar filosoficamente o cultivo da terra, a prática agrícola, e a relação humana/natureza ao longo da história. A Unidade de Desenvolvimento Rural e Agroalimentar, da CCDR Centro, associa-se a esta celebração na perspetiva de contribuir para que se passe a olhar para a agricultura não apenas como sector económico ou conjunto de técnicas, mas como espaço de reflexão filosófica: sobre o humano, a natureza, a técnica e a ética.
Na Grécia antiga a agricultura não era apenas uma atividade económica, mas uma prática vital que se entrelaçava com a ética, a polis e a constituição da comunidade. O cultivo da terra configurava-se como um modo de vida virtuoso, que formava pessoas e comunidades. Podemos ver neste período uma abordagem ontológica e antropológica: a relação do ser humano com a natureza (terra, solo, animais) aparece como fonte de bem-estar, de virtude e de ordem comunitária. Por exemplo, segundo Aristóteles, o agricultor forma‐se no esforço físico, no cuidado com o solo e no domínio de si, práticas que contribuem para o carácter virtuoso.
Por outro lado, autores contemporâneos apontam para o que se designa por “filosofia agrária”: uma corrente que afirma que a agricultura não é apenas mais um ramo económico, mas tem papel constitutivo em instituições sociais, virtudes humanas e ecologia. Um autor central nesta viragem contemporânea é Paul B. Thompson, cujas obras são ponto de convergência entre ética, tecnologia agrícola, identidade alimentar e filosofia ambiental. Para este autor, agricultura torna-se campo de investigação filosófica: “quem somos enquanto seres que cultivam, que comem e que vivem em sistemas alimentares? Que tecnologia empregamos e com que consequências? Que valores moldam esses sistemas?”
Em Portugal, a reflexão sobre a relação entre filosofia e agricultura encontra ecos tanto no registo histórico como no ético-normativo. Por exemplo, A. H. de Oliveira Marques, historiador formado em Ciências Histórico-Filosóficas, dedicou-se a estudar a evolução da agricultura portuguesa ao longo dos séculos e publicou a obra Introdução à História da Agricultura em Portugal, em que analisa, entre outros temas, a questão cerealífera na Idade Média em Portugal.
Nesta abordagem vemos como a agricultura não é só técnica ou económica, mas também parte integrante da constituição social, cultural e histórica do país, o que remete para uma filosofia da prática agrícola enquanto elemento formador da comunidade e da paisagem.
Paralelamente, no domínio mais explicitamente filosófico e ético, a obra de Maria do Céu Patrão Neves, professora de Ética que foi consultora para o setor da Agricultura e Pescas, leva-nos a pensar que a agricultura portuguesa não pode prescindir de uma reflexão ética sobre os fins, práticas e técnicas agrícolas.
Assim, celebrando o Dia Mundial da Filosofia, convém lembrar que os agricultores, os decisores e os cidadãos portugueses são chamados a refletir não apenas sobre “como” cultivamos, mas “porquê” e “para quem” cultivamos, integrando ética, ambiente, cultura e futuro.





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