A CCDR Centro associa-se à comemoração do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial do Pão

Categories: Desenvolvimento Rural, Agroalimentar e Pescas, InformaçãoPublished On: 16/10/2025

A CCDR Centro associa-se às comemorações do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial do Pão, que se assinalam hoje, 16 de outubro, destacando a importância de uma alimentação equilibrada, sustentável e acessível a todos.

Estas duas efemérides sublinham a necessidade de promover a segurança alimentar, valorizar os produtos locais e reconhecer o papel central do pão, enquanto alimento universal, na cultura, na economia e na dieta das populações.

Sobre o Dia Mundial da Alimentação

O Dia Mundial da Alimentação celebra-se por iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

O tema escolhido para este ano é «De mãos dadas para uma alimentação melhor e um futuro melhor», que pretende reforçar a importância da colaboração global na construção de sistemas alimentares mais justos, saudáveis e sustentáveis.

Como refere a FAO, “em alguns lugares, a gravidade da insegurança alimentar é avassaladora. Estima-se que 673 milhões de pessoas vivam com fome. Noutros, os níveis crescentes de obesidade e o desperdício generalizado de alimentos apontam para um sistema desequilibrado — onde abundância e escassez coexistem, muitas vezes lado a lado.”

A CCDR Centro partilha a convicção de que a alimentação é um direito humano fundamental. Neste dia, queremos alertar e sensibilizar para as condições de má nutrição e fome que continuam a afetar milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo crianças.

Ao longo de 80 anos, a FAO tem promovido a cooperação entre nações, ajudando a garantir o direito a uma alimentação saudável e suficiente, a reduzir desigualdades, a combater a pobreza e a responder a emergências alimentares.

Nesse sentido, a FAO propõe quatro grandes desafios que só podem ser alcançados em união, com o contributo dos decisores, agricultores, investigadores e de cada um de nós:

  • Melhor produção: apoiar os agricultores na produção de mais alimentos, sem prejudicar a natureza, aliando inovação e saberes tradicionais.
  • Melhor nutrição: garantir que todos têm acesso a alimentos nutritivos, evitando a fome e a obesidade.
  • Melhor ambiente: proteger o planeta através de práticas agrícolas, piscícolas e pecuárias sustentáveis, que preservem os recursos naturais.
  • Melhor qualidade de vida: criar sistemas agroalimentares que assegurem saúde, emprego digno e educação, especialmente para mulheres e jovens.

Sobre o Dia Mundial do Pão

Símbolo de partilha, união e sustento, o pão está presente em todas as culturas, trazendo sabor, memória e significado às nossas mesas.

Neste Dia Mundial do Pão, a CCDR Centro celebra e dá a conhecer as melhores variedades produzidas na região, valorizando os produtores, padeiros e confrarias que mantêm viva esta herança que alimenta o corpo e a alma.

Porque no Centro de Portugal, cada pão tem o sabor do nosso património.

Como recordam os investigadores Norberto Santos e António Gama, “o pão foi sempre a base da ordem alimentar para ricos e pobres, tanto em meio rural como urbano. Produto de civilização através do domínio da arte do fogo, cobre uma variedade de tipos ao sabor do cereal de que é feito, mas também das terras e das gentes que o produzem.”

Os pães tradicionais, sejam de trigo, centeio ou milho, fazem parte do património culinário e cultural do Centro de Portugal. São produtos com identidade, que perduram porque continuam a responder a necessidades alimentares, afetivas e simbólicas.

Pães tradicionais do Centro de Portugal

Broa de Avanca

Antigamente, era o pão nosso de cada dia — a base da alimentação de todos. Apenas os mais abastados comiam pão branco de trigo ao fim de semana. Com a abundância do trigo e as novas técnicas agrícolas, a broa de milho foi, gradualmente, cedendo lugar ao pão de trigo. Daí nasceu a Confraria da Broa de Avanca, que tem desempenhado um papel essencial na preservação desta tradição. Graças ao seu trabalho, pode afirmar-se que, atualmente, a broa de milho representa cerca de 60% da alimentação local.

 Broa de Loriga

A Broa de Loriga está profundamente enraizada na história local. Foi consumida quase exclusivamente durante mais de dois séculos, num contexto de intensa atividade industrial. Os operários, que constituíam a maioria da população, conciliavam o cultivo do milho com o trabalho na indústria. A broa para consumo doméstico era cozida em fornos comunitários, geridos por forneiras (arrendatárias ou proprietárias) responsáveis por todo o processo de cozedura. Depois de amassada, colocava-se um pouco de farinha por cima da massa e benzia-se, traçando uma cruz para que fosse abençoada. Entoavam-se ainda rezas para que a broa crescesse bem durante a levedação. As broas eram identificadas com sinais que permitiam reconhecer o seu dono — através do número de “beliscos”, buracos, ou até com pequenos objetos metálicos espetados na massa.

Broa de Milho da Beira Alta

Produto regional típico da zona, a Broa de Milho da Beira Alta distingue-se pela forma, aparência pesada, crosta gretada, sabor e textura. A sua origem é antiga e difícil de precisar, pois integra há séculos a alimentação tradicional da população. Nesta região, o trigo praticamente não se cultiva, sendo o milho o cereal por excelência utilizado na panificação.

Broa de Vil Moinhos

Pão tradicional em todo o distrito de Viseu, mas fabricado sobretudo na localidade de Vil Moinhos, nos arredores da cidade — conhecida, na Idade Média, como Villa de Molinis. Esta foi sempre uma terra de moleiros, e ainda hoje ali se moe a farinha usada pelas padeiras para fabricar a broa (ou “boroa”), que depois é levada para venda nos mercados. As origens desta broa perdem-se na memória dos tempos.

 Broa Mimosa do Boco

Confecionada numa região onde predominavam as azenhas que moíam as farinhas, a Broa Mimosa do Boco era enriquecida com ovos e açúcar por altura das festas de Nossa Senhora das Candeias e de Santo Inácio, sendo tradicionalmente acompanhada por carneiro assado em forno de lenha. A Confraria dos Sabores da Abóbora, sediada na freguesia de Soza (à qual pertence o lugar do Boco), continua a cozer, uma vez por mês, esta broa de forma tradicional, mantendo viva uma prática que atravessa gerações.

 Pão de Centeio da Guarda

O pão de centeio foi, ao longo dos tempos, um alimento base das gentes do distrito da Guarda. O livro Memórias do Concelho do Sabugal documenta esta tradição: “… em todas as freguesias há o forno do povo onde os vizinhos cozem o seu pão. Cada vizinho tem obrigação de ‘desamuar’ o forno, isto é, aquecê-lo ou lançar-lhe fogo quando for a sua vez… Todas as filhas de lavradores sabem amassar e tender o pão, preparar o forno ou, pelo menos, dirigir quem o aqueça e meta o pão, virando-o e tirando-o depois de cozido… O pão vai ao forno em tabuleiros largos e fortes, de castanho, envolto em panais de linho grosseiro… Cada pão costuma pesar cinco ou seis arráteis, e cada fornada, de muitos alqueires de centeio, chega para oito dias.” Ainda hoje subsistem, em algumas aldeias do distrito, costumes antigos como o de oferecer pão cozido em cerimónias fúnebres, sob a forma de esmola.

Pão de Centeio do Sabugueiro

Pão tradicional da região de Sabugueiro, a aldeia situada a maior altitude em Portugal.
O escritor Joaquim Manuel Correia descreve o modo de vida das gentes da Beira, referindo-se ao costume de “desamuar o forno” e à simplicidade da alimentação local: “sóbria a alimentação dos habitantes da Beira (…). O pão de centeio (…), a carne de porco (…)”. Durante muito tempo, o pão foi também objeto de esmolas em cerimónias fúnebres, designadamente a “esmola das almas”, em que se distribuíam pedaços de pão de centeio a todos os presentes, pobres e ricos.

Pão de Cornos

Pão caseiro originário do concelho de Vagos, freguesia de Soza, lugar de Lavandeira, tradicionalmente confecionado em ocasiões festivas. Era oferecido em casamentos às crianças que, na igreja, atiravam flores aos noivos. Este produto encontra-se em vias de extinção, sendo atualmente confecionado apenas por algumas pessoas idosas — à exceção de uma padeira que se dedicou a recuperar e divulgar esta tradição. Por ser um pão mais caro, não tinha grande representatividade na alimentação quotidiana, sendo reservado para festas ou comemorações familiares. Hoje, o Pão de Cornos começa a ser comercializado e promovido em eventos culturais, onde tem conquistado grande apreço.

Pão de Escalhão

Produto regional típico da Região Centro, o Pão de Escalhão é lembrado pelas pessoas mais velhas como parte integrante da sua alimentação desde sempre. É confecionado com farinha de trigo e de centeio, sal e fermento de padeiro. Apresenta um miolo seco e poroso, tem 40 a 50 cm de diâmetro e cerca de 1 kg de peso.

 Pão de Trigo em “Padas”

Fabricado a partir de uma massa amassada à mão, lenta e demoradamente, como faziam as padeiras de várias localidades do distrito de Aveiro, nomeadamente da região de Ílhavo. É um pão de formato rústico, constituído por duas pequenas unidades (cerca de 50 g cada) sobrepostas num dos extremos.

Pão Doce

Pão caseiro típico do concelho de Vagos, tradicionalmente confecionado em ocasiões festivas. É preparado com 24 horas de antecedência e cozido em forno de lenha, o que lhe confere sabor e textura característicos.

Pão Doce das 24 Horas

Descendente dos pães doces que as civilizações gregas e romanas ofereciam aos deuses para lhes apaziguar a ira, este pão chegou aos nossos dias como oferenda em manifestações religiosas. É preparado com farinha, leite, ovos, açúcar, azeite, banha e levedura natural, resultando num bolo de massa levedada, de miolo fofo e febrado, ao qual a gordura confere excelente conservação.

Pão Santoro de Pêga

Produto regional típico do distrito da Guarda, particularmente da freguesia de Pêga, de onde se difundiu por todo o concelho do Sabugal. Trata-se de um pão de festas, associado à celebração de Todos-os-Santos, altura em que os padrinhos oferecem o Pão Santoro aos afilhados — tal como noutras zonas do distrito se oferece, pela Páscoa, o Bolo Folar da Guarda. Este gesto simboliza a importância do Santoro, em contraste com o pão escuro de centeio ou de milho, que era o alimento diário dos lavradores. Um antigo livro de memórias refere: “Os padrinhos mais pobres apenas dão bolos de vintém aos afilhados, que consistem em simples bolos de pão, cuja massa é espalmada e untada com azeite antes de ir ao forno.”

Pão-de-Ló (Região Centro)

Bolo de massa fofa e ligeiramente esponjosa, de tonalidade amarela e aroma a citrinos.
Com ingredientes simples — ovos e farinha de trigo, facilmente disponíveis nas casas rurais — o Pão-de-Ló tornou-se um doce acessível e popular, símbolo da doçaria tradicional da Região Centro.

Referências

Comissão Europeia: https://commission.europa.eu/food-farming-fisheries_pt 

EUROCID: https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-mundial-da-alimentacao 

FAO: https://www.fao.org/world-food-day/en  

Produtos Tradicionais Portugueses: https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/zona-geografica/centro?start=60 

Santos, N.; Gama, A. (2011) – “As tradições do pão, territórios e desenvolvimento”, Trunfos de uma Geografia ativa. Desenvolvimento Local, Ambiente, Ordenamento e Tecnologia, Imprensa da Universidade de Coimbra, (pp. 273-282).   

A CCDR Centro associa-se à comemoração do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial do Pão

A CCDR Centro associa-se à comemoração do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial do Pão

Categories: Desenvolvimento Rural, Agroalimentar e Pescas, InformaçãoPublished On: 16/10/2025

A CCDR Centro associa-se às comemorações do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial do Pão, que se assinalam hoje, 16 de outubro, destacando a importância de uma alimentação equilibrada, sustentável e acessível a todos.

Estas duas efemérides sublinham a necessidade de promover a segurança alimentar, valorizar os produtos locais e reconhecer o papel central do pão, enquanto alimento universal, na cultura, na economia e na dieta das populações.

Sobre o Dia Mundial da Alimentação

O Dia Mundial da Alimentação celebra-se por iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

O tema escolhido para este ano é «De mãos dadas para uma alimentação melhor e um futuro melhor», que pretende reforçar a importância da colaboração global na construção de sistemas alimentares mais justos, saudáveis e sustentáveis.

Como refere a FAO, “em alguns lugares, a gravidade da insegurança alimentar é avassaladora. Estima-se que 673 milhões de pessoas vivam com fome. Noutros, os níveis crescentes de obesidade e o desperdício generalizado de alimentos apontam para um sistema desequilibrado — onde abundância e escassez coexistem, muitas vezes lado a lado.”

A CCDR Centro partilha a convicção de que a alimentação é um direito humano fundamental. Neste dia, queremos alertar e sensibilizar para as condições de má nutrição e fome que continuam a afetar milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo crianças.

Ao longo de 80 anos, a FAO tem promovido a cooperação entre nações, ajudando a garantir o direito a uma alimentação saudável e suficiente, a reduzir desigualdades, a combater a pobreza e a responder a emergências alimentares.

Nesse sentido, a FAO propõe quatro grandes desafios que só podem ser alcançados em união, com o contributo dos decisores, agricultores, investigadores e de cada um de nós:

  • Melhor produção: apoiar os agricultores na produção de mais alimentos, sem prejudicar a natureza, aliando inovação e saberes tradicionais.
  • Melhor nutrição: garantir que todos têm acesso a alimentos nutritivos, evitando a fome e a obesidade.
  • Melhor ambiente: proteger o planeta através de práticas agrícolas, piscícolas e pecuárias sustentáveis, que preservem os recursos naturais.
  • Melhor qualidade de vida: criar sistemas agroalimentares que assegurem saúde, emprego digno e educação, especialmente para mulheres e jovens.

Sobre o Dia Mundial do Pão

Símbolo de partilha, união e sustento, o pão está presente em todas as culturas, trazendo sabor, memória e significado às nossas mesas.

Neste Dia Mundial do Pão, a CCDR Centro celebra e dá a conhecer as melhores variedades produzidas na região, valorizando os produtores, padeiros e confrarias que mantêm viva esta herança que alimenta o corpo e a alma.

Porque no Centro de Portugal, cada pão tem o sabor do nosso património.

Como recordam os investigadores Norberto Santos e António Gama, “o pão foi sempre a base da ordem alimentar para ricos e pobres, tanto em meio rural como urbano. Produto de civilização através do domínio da arte do fogo, cobre uma variedade de tipos ao sabor do cereal de que é feito, mas também das terras e das gentes que o produzem.”

Os pães tradicionais, sejam de trigo, centeio ou milho, fazem parte do património culinário e cultural do Centro de Portugal. São produtos com identidade, que perduram porque continuam a responder a necessidades alimentares, afetivas e simbólicas.

Pães tradicionais do Centro de Portugal

Broa de Avanca

Antigamente, era o pão nosso de cada dia — a base da alimentação de todos. Apenas os mais abastados comiam pão branco de trigo ao fim de semana. Com a abundância do trigo e as novas técnicas agrícolas, a broa de milho foi, gradualmente, cedendo lugar ao pão de trigo. Daí nasceu a Confraria da Broa de Avanca, que tem desempenhado um papel essencial na preservação desta tradição. Graças ao seu trabalho, pode afirmar-se que, atualmente, a broa de milho representa cerca de 60% da alimentação local.

 Broa de Loriga

A Broa de Loriga está profundamente enraizada na história local. Foi consumida quase exclusivamente durante mais de dois séculos, num contexto de intensa atividade industrial. Os operários, que constituíam a maioria da população, conciliavam o cultivo do milho com o trabalho na indústria. A broa para consumo doméstico era cozida em fornos comunitários, geridos por forneiras (arrendatárias ou proprietárias) responsáveis por todo o processo de cozedura. Depois de amassada, colocava-se um pouco de farinha por cima da massa e benzia-se, traçando uma cruz para que fosse abençoada. Entoavam-se ainda rezas para que a broa crescesse bem durante a levedação. As broas eram identificadas com sinais que permitiam reconhecer o seu dono — através do número de “beliscos”, buracos, ou até com pequenos objetos metálicos espetados na massa.

Broa de Milho da Beira Alta

Produto regional típico da zona, a Broa de Milho da Beira Alta distingue-se pela forma, aparência pesada, crosta gretada, sabor e textura. A sua origem é antiga e difícil de precisar, pois integra há séculos a alimentação tradicional da população. Nesta região, o trigo praticamente não se cultiva, sendo o milho o cereal por excelência utilizado na panificação.

Broa de Vil Moinhos

Pão tradicional em todo o distrito de Viseu, mas fabricado sobretudo na localidade de Vil Moinhos, nos arredores da cidade — conhecida, na Idade Média, como Villa de Molinis. Esta foi sempre uma terra de moleiros, e ainda hoje ali se moe a farinha usada pelas padeiras para fabricar a broa (ou “boroa”), que depois é levada para venda nos mercados. As origens desta broa perdem-se na memória dos tempos.

 Broa Mimosa do Boco

Confecionada numa região onde predominavam as azenhas que moíam as farinhas, a Broa Mimosa do Boco era enriquecida com ovos e açúcar por altura das festas de Nossa Senhora das Candeias e de Santo Inácio, sendo tradicionalmente acompanhada por carneiro assado em forno de lenha. A Confraria dos Sabores da Abóbora, sediada na freguesia de Soza (à qual pertence o lugar do Boco), continua a cozer, uma vez por mês, esta broa de forma tradicional, mantendo viva uma prática que atravessa gerações.

 Pão de Centeio da Guarda

O pão de centeio foi, ao longo dos tempos, um alimento base das gentes do distrito da Guarda. O livro Memórias do Concelho do Sabugal documenta esta tradição: “… em todas as freguesias há o forno do povo onde os vizinhos cozem o seu pão. Cada vizinho tem obrigação de ‘desamuar’ o forno, isto é, aquecê-lo ou lançar-lhe fogo quando for a sua vez… Todas as filhas de lavradores sabem amassar e tender o pão, preparar o forno ou, pelo menos, dirigir quem o aqueça e meta o pão, virando-o e tirando-o depois de cozido… O pão vai ao forno em tabuleiros largos e fortes, de castanho, envolto em panais de linho grosseiro… Cada pão costuma pesar cinco ou seis arráteis, e cada fornada, de muitos alqueires de centeio, chega para oito dias.” Ainda hoje subsistem, em algumas aldeias do distrito, costumes antigos como o de oferecer pão cozido em cerimónias fúnebres, sob a forma de esmola.

Pão de Centeio do Sabugueiro

Pão tradicional da região de Sabugueiro, a aldeia situada a maior altitude em Portugal.
O escritor Joaquim Manuel Correia descreve o modo de vida das gentes da Beira, referindo-se ao costume de “desamuar o forno” e à simplicidade da alimentação local: “sóbria a alimentação dos habitantes da Beira (…). O pão de centeio (…), a carne de porco (…)”. Durante muito tempo, o pão foi também objeto de esmolas em cerimónias fúnebres, designadamente a “esmola das almas”, em que se distribuíam pedaços de pão de centeio a todos os presentes, pobres e ricos.

Pão de Cornos

Pão caseiro originário do concelho de Vagos, freguesia de Soza, lugar de Lavandeira, tradicionalmente confecionado em ocasiões festivas. Era oferecido em casamentos às crianças que, na igreja, atiravam flores aos noivos. Este produto encontra-se em vias de extinção, sendo atualmente confecionado apenas por algumas pessoas idosas — à exceção de uma padeira que se dedicou a recuperar e divulgar esta tradição. Por ser um pão mais caro, não tinha grande representatividade na alimentação quotidiana, sendo reservado para festas ou comemorações familiares. Hoje, o Pão de Cornos começa a ser comercializado e promovido em eventos culturais, onde tem conquistado grande apreço.

Pão de Escalhão

Produto regional típico da Região Centro, o Pão de Escalhão é lembrado pelas pessoas mais velhas como parte integrante da sua alimentação desde sempre. É confecionado com farinha de trigo e de centeio, sal e fermento de padeiro. Apresenta um miolo seco e poroso, tem 40 a 50 cm de diâmetro e cerca de 1 kg de peso.

 Pão de Trigo em “Padas”

Fabricado a partir de uma massa amassada à mão, lenta e demoradamente, como faziam as padeiras de várias localidades do distrito de Aveiro, nomeadamente da região de Ílhavo. É um pão de formato rústico, constituído por duas pequenas unidades (cerca de 50 g cada) sobrepostas num dos extremos.

Pão Doce

Pão caseiro típico do concelho de Vagos, tradicionalmente confecionado em ocasiões festivas. É preparado com 24 horas de antecedência e cozido em forno de lenha, o que lhe confere sabor e textura característicos.

Pão Doce das 24 Horas

Descendente dos pães doces que as civilizações gregas e romanas ofereciam aos deuses para lhes apaziguar a ira, este pão chegou aos nossos dias como oferenda em manifestações religiosas. É preparado com farinha, leite, ovos, açúcar, azeite, banha e levedura natural, resultando num bolo de massa levedada, de miolo fofo e febrado, ao qual a gordura confere excelente conservação.

Pão Santoro de Pêga

Produto regional típico do distrito da Guarda, particularmente da freguesia de Pêga, de onde se difundiu por todo o concelho do Sabugal. Trata-se de um pão de festas, associado à celebração de Todos-os-Santos, altura em que os padrinhos oferecem o Pão Santoro aos afilhados — tal como noutras zonas do distrito se oferece, pela Páscoa, o Bolo Folar da Guarda. Este gesto simboliza a importância do Santoro, em contraste com o pão escuro de centeio ou de milho, que era o alimento diário dos lavradores. Um antigo livro de memórias refere: “Os padrinhos mais pobres apenas dão bolos de vintém aos afilhados, que consistem em simples bolos de pão, cuja massa é espalmada e untada com azeite antes de ir ao forno.”

Pão-de-Ló (Região Centro)

Bolo de massa fofa e ligeiramente esponjosa, de tonalidade amarela e aroma a citrinos.
Com ingredientes simples — ovos e farinha de trigo, facilmente disponíveis nas casas rurais — o Pão-de-Ló tornou-se um doce acessível e popular, símbolo da doçaria tradicional da Região Centro.

Referências

Comissão Europeia: https://commission.europa.eu/food-farming-fisheries_pt 

EUROCID: https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-mundial-da-alimentacao 

FAO: https://www.fao.org/world-food-day/en  

Produtos Tradicionais Portugueses: https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/zona-geografica/centro?start=60 

Santos, N.; Gama, A. (2011) – “As tradições do pão, territórios e desenvolvimento”, Trunfos de uma Geografia ativa. Desenvolvimento Local, Ambiente, Ordenamento e Tecnologia, Imprensa da Universidade de Coimbra, (pp. 273-282).   

A CCDR Centro associa-se às comemorações do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial do Pão, que se assinalam hoje, 16 de outubro, destacando a importância de uma alimentação equilibrada, sustentável e acessível a todos.

Estas duas efemérides sublinham a necessidade de promover a segurança alimentar, valorizar os produtos locais e reconhecer o papel central do pão, enquanto alimento universal, na cultura, na economia e na dieta das populações.

Sobre o Dia Mundial da Alimentação

O Dia Mundial da Alimentação celebra-se por iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

O tema escolhido para este ano é «De mãos dadas para uma alimentação melhor e um futuro melhor», que pretende reforçar a importância da colaboração global na construção de sistemas alimentares mais justos, saudáveis e sustentáveis.

Como refere a FAO, “em alguns lugares, a gravidade da insegurança alimentar é avassaladora. Estima-se que 673 milhões de pessoas vivam com fome. Noutros, os níveis crescentes de obesidade e o desperdício generalizado de alimentos apontam para um sistema desequilibrado — onde abundância e escassez coexistem, muitas vezes lado a lado.”

A CCDR Centro partilha a convicção de que a alimentação é um direito humano fundamental. Neste dia, queremos alertar e sensibilizar para as condições de má nutrição e fome que continuam a afetar milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo crianças.

Ao longo de 80 anos, a FAO tem promovido a cooperação entre nações, ajudando a garantir o direito a uma alimentação saudável e suficiente, a reduzir desigualdades, a combater a pobreza e a responder a emergências alimentares.

Nesse sentido, a FAO propõe quatro grandes desafios que só podem ser alcançados em união, com o contributo dos decisores, agricultores, investigadores e de cada um de nós:

  • Melhor produção: apoiar os agricultores na produção de mais alimentos, sem prejudicar a natureza, aliando inovação e saberes tradicionais.
  • Melhor nutrição: garantir que todos têm acesso a alimentos nutritivos, evitando a fome e a obesidade.
  • Melhor ambiente: proteger o planeta através de práticas agrícolas, piscícolas e pecuárias sustentáveis, que preservem os recursos naturais.
  • Melhor qualidade de vida: criar sistemas agroalimentares que assegurem saúde, emprego digno e educação, especialmente para mulheres e jovens.

Sobre o Dia Mundial do Pão

Símbolo de partilha, união e sustento, o pão está presente em todas as culturas, trazendo sabor, memória e significado às nossas mesas.

Neste Dia Mundial do Pão, a CCDR Centro celebra e dá a conhecer as melhores variedades produzidas na região, valorizando os produtores, padeiros e confrarias que mantêm viva esta herança que alimenta o corpo e a alma.

Porque no Centro de Portugal, cada pão tem o sabor do nosso património.

Como recordam os investigadores Norberto Santos e António Gama, “o pão foi sempre a base da ordem alimentar para ricos e pobres, tanto em meio rural como urbano. Produto de civilização através do domínio da arte do fogo, cobre uma variedade de tipos ao sabor do cereal de que é feito, mas também das terras e das gentes que o produzem.”

Os pães tradicionais, sejam de trigo, centeio ou milho, fazem parte do património culinário e cultural do Centro de Portugal. São produtos com identidade, que perduram porque continuam a responder a necessidades alimentares, afetivas e simbólicas.

Pães tradicionais do Centro de Portugal

Broa de Avanca

Antigamente, era o pão nosso de cada dia — a base da alimentação de todos. Apenas os mais abastados comiam pão branco de trigo ao fim de semana. Com a abundância do trigo e as novas técnicas agrícolas, a broa de milho foi, gradualmente, cedendo lugar ao pão de trigo. Daí nasceu a Confraria da Broa de Avanca, que tem desempenhado um papel essencial na preservação desta tradição. Graças ao seu trabalho, pode afirmar-se que, atualmente, a broa de milho representa cerca de 60% da alimentação local.

 Broa de Loriga

A Broa de Loriga está profundamente enraizada na história local. Foi consumida quase exclusivamente durante mais de dois séculos, num contexto de intensa atividade industrial. Os operários, que constituíam a maioria da população, conciliavam o cultivo do milho com o trabalho na indústria. A broa para consumo doméstico era cozida em fornos comunitários, geridos por forneiras (arrendatárias ou proprietárias) responsáveis por todo o processo de cozedura. Depois de amassada, colocava-se um pouco de farinha por cima da massa e benzia-se, traçando uma cruz para que fosse abençoada. Entoavam-se ainda rezas para que a broa crescesse bem durante a levedação. As broas eram identificadas com sinais que permitiam reconhecer o seu dono — através do número de “beliscos”, buracos, ou até com pequenos objetos metálicos espetados na massa.

Broa de Milho da Beira Alta

Produto regional típico da zona, a Broa de Milho da Beira Alta distingue-se pela forma, aparência pesada, crosta gretada, sabor e textura. A sua origem é antiga e difícil de precisar, pois integra há séculos a alimentação tradicional da população. Nesta região, o trigo praticamente não se cultiva, sendo o milho o cereal por excelência utilizado na panificação.

Broa de Vil Moinhos

Pão tradicional em todo o distrito de Viseu, mas fabricado sobretudo na localidade de Vil Moinhos, nos arredores da cidade — conhecida, na Idade Média, como Villa de Molinis. Esta foi sempre uma terra de moleiros, e ainda hoje ali se moe a farinha usada pelas padeiras para fabricar a broa (ou “boroa”), que depois é levada para venda nos mercados. As origens desta broa perdem-se na memória dos tempos.

 Broa Mimosa do Boco

Confecionada numa região onde predominavam as azenhas que moíam as farinhas, a Broa Mimosa do Boco era enriquecida com ovos e açúcar por altura das festas de Nossa Senhora das Candeias e de Santo Inácio, sendo tradicionalmente acompanhada por carneiro assado em forno de lenha. A Confraria dos Sabores da Abóbora, sediada na freguesia de Soza (à qual pertence o lugar do Boco), continua a cozer, uma vez por mês, esta broa de forma tradicional, mantendo viva uma prática que atravessa gerações.

 Pão de Centeio da Guarda

O pão de centeio foi, ao longo dos tempos, um alimento base das gentes do distrito da Guarda. O livro Memórias do Concelho do Sabugal documenta esta tradição: “… em todas as freguesias há o forno do povo onde os vizinhos cozem o seu pão. Cada vizinho tem obrigação de ‘desamuar’ o forno, isto é, aquecê-lo ou lançar-lhe fogo quando for a sua vez… Todas as filhas de lavradores sabem amassar e tender o pão, preparar o forno ou, pelo menos, dirigir quem o aqueça e meta o pão, virando-o e tirando-o depois de cozido… O pão vai ao forno em tabuleiros largos e fortes, de castanho, envolto em panais de linho grosseiro… Cada pão costuma pesar cinco ou seis arráteis, e cada fornada, de muitos alqueires de centeio, chega para oito dias.” Ainda hoje subsistem, em algumas aldeias do distrito, costumes antigos como o de oferecer pão cozido em cerimónias fúnebres, sob a forma de esmola.

Pão de Centeio do Sabugueiro

Pão tradicional da região de Sabugueiro, a aldeia situada a maior altitude em Portugal.
O escritor Joaquim Manuel Correia descreve o modo de vida das gentes da Beira, referindo-se ao costume de “desamuar o forno” e à simplicidade da alimentação local: “sóbria a alimentação dos habitantes da Beira (…). O pão de centeio (…), a carne de porco (…)”. Durante muito tempo, o pão foi também objeto de esmolas em cerimónias fúnebres, designadamente a “esmola das almas”, em que se distribuíam pedaços de pão de centeio a todos os presentes, pobres e ricos.

Pão de Cornos

Pão caseiro originário do concelho de Vagos, freguesia de Soza, lugar de Lavandeira, tradicionalmente confecionado em ocasiões festivas. Era oferecido em casamentos às crianças que, na igreja, atiravam flores aos noivos. Este produto encontra-se em vias de extinção, sendo atualmente confecionado apenas por algumas pessoas idosas — à exceção de uma padeira que se dedicou a recuperar e divulgar esta tradição. Por ser um pão mais caro, não tinha grande representatividade na alimentação quotidiana, sendo reservado para festas ou comemorações familiares. Hoje, o Pão de Cornos começa a ser comercializado e promovido em eventos culturais, onde tem conquistado grande apreço.

Pão de Escalhão

Produto regional típico da Região Centro, o Pão de Escalhão é lembrado pelas pessoas mais velhas como parte integrante da sua alimentação desde sempre. É confecionado com farinha de trigo e de centeio, sal e fermento de padeiro. Apresenta um miolo seco e poroso, tem 40 a 50 cm de diâmetro e cerca de 1 kg de peso.

 Pão de Trigo em “Padas”

Fabricado a partir de uma massa amassada à mão, lenta e demoradamente, como faziam as padeiras de várias localidades do distrito de Aveiro, nomeadamente da região de Ílhavo. É um pão de formato rústico, constituído por duas pequenas unidades (cerca de 50 g cada) sobrepostas num dos extremos.

Pão Doce

Pão caseiro típico do concelho de Vagos, tradicionalmente confecionado em ocasiões festivas. É preparado com 24 horas de antecedência e cozido em forno de lenha, o que lhe confere sabor e textura característicos.

Pão Doce das 24 Horas

Descendente dos pães doces que as civilizações gregas e romanas ofereciam aos deuses para lhes apaziguar a ira, este pão chegou aos nossos dias como oferenda em manifestações religiosas. É preparado com farinha, leite, ovos, açúcar, azeite, banha e levedura natural, resultando num bolo de massa levedada, de miolo fofo e febrado, ao qual a gordura confere excelente conservação.

Pão Santoro de Pêga

Produto regional típico do distrito da Guarda, particularmente da freguesia de Pêga, de onde se difundiu por todo o concelho do Sabugal. Trata-se de um pão de festas, associado à celebração de Todos-os-Santos, altura em que os padrinhos oferecem o Pão Santoro aos afilhados — tal como noutras zonas do distrito se oferece, pela Páscoa, o Bolo Folar da Guarda. Este gesto simboliza a importância do Santoro, em contraste com o pão escuro de centeio ou de milho, que era o alimento diário dos lavradores. Um antigo livro de memórias refere: “Os padrinhos mais pobres apenas dão bolos de vintém aos afilhados, que consistem em simples bolos de pão, cuja massa é espalmada e untada com azeite antes de ir ao forno.”

Pão-de-Ló (Região Centro)

Bolo de massa fofa e ligeiramente esponjosa, de tonalidade amarela e aroma a citrinos.
Com ingredientes simples — ovos e farinha de trigo, facilmente disponíveis nas casas rurais — o Pão-de-Ló tornou-se um doce acessível e popular, símbolo da doçaria tradicional da Região Centro.

Referências

Comissão Europeia: https://commission.europa.eu/food-farming-fisheries_pt 

EUROCID: https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-mundial-da-alimentacao 

FAO: https://www.fao.org/world-food-day/en  

Produtos Tradicionais Portugueses: https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/zona-geografica/centro?start=60 

Santos, N.; Gama, A. (2011) – “As tradições do pão, territórios e desenvolvimento”, Trunfos de uma Geografia ativa. Desenvolvimento Local, Ambiente, Ordenamento e Tecnologia, Imprensa da Universidade de Coimbra, (pp. 273-282).