Maranho da Sertã IGP

Maranho da Sertã IGP: o sabor que conta a história da Sertã.

Mais do que um prato típico, é um verdadeiro emblema da cultura e da identidade da nossa região. O Maranho da Sertã goza de grande reputação, sendo um dos produtos mais afamados da gastronomia regional. Esta reputação, consolidada ao longo dos anos, baseia-se no proveito que o saber-fazer local soube retirar dos ingredientes típicos da região, dando origem a um produto característico e muito apreciado.

De acordo com a investigadora Olga Cavaleiro, “uma geografia tem sempre associada a si a cultura de uma comunidade que se revela nas várias expressões culturais. Neste contexto, podemos afirmar que a alimentação revela e traduz traços culturais das comunidades na medida em que o homem reinterpreta e reinventa a natureza quando a utiliza para dela retirar produtos para comer, transforma-a de acordo com as técnicas que vai experimentando e atribui significados simbólicos aos produtos e às receitas” (Cavaleiro, 2018).

Entende-se por Maranho da Sertã o ensacado feito a partir da “bandouga” (estômago de ovinos e caprinos), recheado com uma mistura de ingredientes que respeita os seguintes limites de incorporação (% peso): Carne de caprino e/ou ovino: ingrediente predominante, 20 a 40%, inclusive; Arroz carolino: 15 a 25%, inclusive; Hortelã: 2 a 6%, inclusive. São ainda incluídos como ingredientes obrigatórios: Bandouga, toucinho entremeado, presunto, azeite, vinho branco, sal e água. Facultativamente, podem ainda ser incorporados os seguintes ingredientes: chouriço de carne, sumo de limão, pimenta ou piripiri e alho.

Pegando nas palavras de Maria João Forte, percebe-se que “a culinária, e particularmente a gastronomia, demoraram a alcançar estatuto no quadro das Ciências Sociais e mais ainda na Etnografia Portuguesa. O discurso nesta temática foi sempre predominantemente o do receituário e demorou a ser pensado no quadro mais alargado dos sistemas alimentares à luz do que vinha sendo feito pela História e pela Antropologia” (Forte, 2013). Contudo, “a alimentação é hoje considerada de grande importância quer pela sua capacidade de dinamização da economia, quer pela renovação agrícola que pode proporcionar, quer pela necessidade de optar por um estilo de vida saudável, quer ainda pelo seu caráter cultural que envolve um conjunto patrimonial fundamental para a preservação da identidade” (Cavaleiro, 2018). É nesse sentido que consideramos que o reconhecido com o selo IGP (Indicação Geográfica Protegida) atribuído ao Maranho da Sertã representa mais do que a garantia de qualidade e de origem. Patenteia a preservação do “saber fazer” que dá vida às mesas festivas desta região.

A área geográfica de produção, preparação e acondicionamento do Maranho da Sertã está circunscrita ao Concelho da Sertã. O primeiro registo escrito que se encontrou sobre os maranhos, na sua vertente alimentar, data de 1858 e consta da 6.ª edição do Dicionário de Língua Portuguesa, de António da Silva Morais, onde são caracterizados como uma “iguaria de origem portuguesa, em cuja preparação entram o arroz (…) e miúdos de carneiro, condimentados com hortelã. Um dado revelador da importância regional deste produto prende-se com um famoso almoço oferecido a Afonso Costa (ministro e primeiro-ministro da I República), a 13 de abril de 1913, em Cernache do Bonjardim (localidade situada no concelho da Sertã), onde o produto principal apresentado foi o já então tradicional maranho.

Se visitar a Sertã, não deixe de provar esta especialidade única.

Referências

Cavaleiro, O. (2018): Portugal Gastronómico. A gastronomia portuguesa e as cozinhas regionais, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Forte, M. (2013): Territórios culturais e património gastronómico: da “cerdeira” à cereja do Fundão, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

Produtos Tradicionais Portugueses: https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/salsicharia-fumados-presuntos-e-paletas/405-maranhos-da-serta