Arroz Carolino do Baixo Mondego IGP – Tradição, Excelência e Inovação

Considerando que a colheita do Arroz Carolino do Baixo Mondego se realiza, de modo geral, nas últimas semanas de setembro e na primeira de outubro, é tempo de enaltecer um dos produtos mais emblemáticos da cozinha portuguesa. Desde o Arroz Doce ao Arroz de Lampreia, do Arroz de Grelos ao Arroz de Pato, passando pelo Arroz Malandrinho e tantos outros pratos típicos da nossa gastronomia, o Arroz Carolino do Baixo Mondego encarna, com todo o mérito, a figura de rei à nossa mesa.
O arroz é, sem dúvida, um dos produtos naturais mais importantes e saudáveis ao dispor da humanidade. É o alimento básico de mais de dois terços da população mundial e ocupa o segundo lugar entre os alimentos mais consumidos no planeta.
Designa-se por Arroz Carolino do Baixo Mondego a cariopse desencasulada da espécie Oryza sativa L., subespécie Japónica, de diversas variedades — como Aríete, EuroSis, Augusto, Vasco e Luna — cultivadas na região do Baixo Mondego. Após o descasque e branqueamento, este arroz apresenta um teor de humidade igual ou inferior a 13%, preservando as suas características únicas de textura e sabor.
Contudo, uma nova estrela começa a brilhar nos arrozais do Mondego: o Arroz Carolino Caravela. “Este arroz, obtido através do cruzamento de variedades da coleção portuguesa guardada no Banco Português de Germoplasma Vegetal em Braga, passou por um processo de seleção e avaliação que durou cerca de 15 anos. Este longo e complexo processo envolveu várias etapas de seleção em campo e avaliação da qualidade e produção, destacando-se pela sua estabilidade e qualidade, características essenciais para competir com variedades estrangeiras” (INIAV).
De acordo com a mesma fonte, “a investigação conjunta do INIAV e COTArroz, com o apoio da CCDR Centro, foi crucial para o desenvolvimento do arroz Carolino Caravela. A combinação de melhoramento genético com práticas culturais inovadoras resultou numa variedade que oferece múltiplos benefícios para agricultores, ambiente e consumidores”.
A história da orizicultura no Mondego é antiga e profundamente enraizada na região. Segundo Irene Vaquinhas, “não há datas precisas quanto à introdução da cultura do arroz nos Campos do Mondego. Fontes historiográficas diversas permitem concluir que o arroz já era cultivado na segunda metade do século XVIII nos campos do Mondego. Os Frades do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (Frades Crúzios), um dos mais poderosos proprietários de terras nos Campos do Mondego, praticavam a orizicultura na sua Quinta de Foja, propriedade que funcionou como quinta experimental para várias culturas, entre as quais o arroz”.
Ainda segundo a autora, “de acordo com as palavras proferidas, no ano de 1804, pelo insigne botânico e professor da Universidade de Coimbra, Avelar Brotero (1744–1828), os terrenos pantanosos de Montemor-o-Velho eram dos mais antigos na produção de arroz” (Vaquinhas, p. 16).
Atualmente, a área geográfica de produção do Arroz Carolino do Baixo Mondego encontra-se delimitada às seguintes freguesias: Ançã (Cantanhede); Ameal, Antuzede, Arzila, Ribeira de Frades, São João do Campo, São Martinho do Bispo e Taveiro (Coimbra); Anobra (Condeixa-a-Nova); Alqueidão, Lavos, Paião, Borda do Campo, Maiorca, Ferreira-a-Nova, Santana e Vila Verde (Figueira da Foz); Tentúgal, Meãs do Campo, Carapinheira, Montemor-o-Velho, Gatões, Abrunheira, Liceia, Verride, Ereira, Vila Nova da Barca, Pereira e Santo Varão (Montemor-o-Velho); Louriçal (Pombal); e Alfarelos, Brunhós, Gesteira, Granja do Ulmeiro, Samuel, Soure, Vila Nova de Anços e Vinha da Rainha (Soure).
Mais do que um simples alimento, o Arroz Carolino do Baixo Mondego é símbolo de tradição, qualidade e inovação, mantendo viva uma herança agrícola que continua a evoluir com o tempo e com o saber das gentes da região.
Referências
Borges, J. (2014) – Estudo de Novas Variedades de Arroz Carolino para o Baixo Mondego, Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior Agrária.
https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/horticolas-e-cereais/557-arroz-carolino-do-baixo-mondego-igp
Vaquinhas, I. (2005) – “Breve historial sobre a Cultura do Arroz nos Campos do Mondego”, Saberes e Sabores do Arroz Carolino do Baixo Mondego, Associação dos Agricultores do Vale do Mondego.




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